segunda-feira, 5 de julho de 2010

Capítulo 6 - ~* Apenas Juntos *~

Capítulo 6 - Amigos.

O outono se foi e o frio inverno havia adentrado nossas cidades, nossas ruas, nossas casas, nossos corpos. As coisas continuaram a fluir normalmente: eu lutando para fazer os trabalhos da faculdade, Aiko me perturbando durante os intervalos, Yuki sempre estava por perto para dar um puxão de orelha em uma das duas e Kakyou continuava a me buscar para almoçarmos juntos. Algumas vezes até almoçamos os quatro juntos. Sempre era muito divertido, já que Aiko ficava fazendo suas várias piadinhas com Yuki e Kakyou. Na verdade, acho que eles não gostavam muito já que eram a piada.

Era um Domingo, e estávamos todos na minha casa para assistir um filme enquanto nos aquecíamos num kotatsu e tomávamos chocolate quente. Yuki e Kakyou estavam sentados no kotatsu, ambos quietos e absortos em seus próprios pensamentos, Aiko estava mexendo freneticamente no monte de filmes que havia trazido, indecisa, e eu estava na cozinha cortando o chocolate. Até que o telefone toca.

- <....>-chan! TELEFOOONE! - escutei Aiko gritando.

Entrei na sala de estar, esfregando uma mão contra a outra, por causa do frio e falei:

-Que incrível! Você não atendeu o telefone por conta própria...

- Estou ocupada tentando escolher algum filme. - disse, com um tom de desespero.

Atendi o telefone, como sempre. E a primeira coisa que ouvi foi a voz rouca de meu pai.

- <....>, filha.

- Ah, olá, pai. - senti os olhares de Aiko e Yuki nas minhas costas.

- Faz tempo que não liga, já se esqueceu de sua mãe que está doente? - falou, rude.

- Não. Apenas estou ocupada com a faculdade, sabe?

- Hunf! - falou meu pai, com um pouco de desgosto. - Ainda está fazendo o mesmo curso?

- Pai, espero que não tenha ligado apenas para isso. - falei com a voz alterada. - De qualquer modo, como vai a mamãe?

- Vai vem, vai bem. Anda um pouco indisposta com o clima frio, mas está bem.

Permaneceu o silêncio entre nós. Fazia anos que eu não tinha uma conversa decente com meu pai, e isso não mudaria hoje.

- Bem, vou cuidar da sua mãe.

- Mande um abraço para ela por mim.

- Claro, claro. - e desligou.

Virei-me para as pessoas na sala e todos os olhares se concentravam em mim, mesmo Kakyou, que até então estava com o rosto apoiado na mão, havia posicionado as mão sobre a mesa e me observando, meio confuso. Tentei forçar um sorriso.

- Haha, é melhor eu acabar de fazer o chocolate. - voltei para a cozinha, tentando não demonstrar fraqueza pelo olhar.

Parei em frente ao balcão e respirei fundo. Meu pai nunca havia mostrado respeito quanto à minha escolha de curso e instituição. Fazer Letras em uma cidade pequena como essa foi como uma desonra para ele. Mas essa foi minha escolha, meu sonho. Eu queria me tornar uma escritora e nada iria me impedir. Algumas lágrimas escaparam e caíram sobre o balcão. Escutei alguém entrando pela porta da cozinha e tentei limpar meus olhos. Virei-me para encarar a pessoa, achando que era Aiko ou Kakyou, mas, para minha surpresa, era Yuki, com uma cara preocupada.

- <....>... - falou estendendo a mão, tentando me alcançar.

Deve ter sido a primeira vez que Yuki me chamou apenas de <....>, sem utilizar o -san. O que me deixou feliz, e me fez chorar ainda mais.

- Você me chamou de <....>! - falei, limpando as lágrimas de meu rosto.

- Isso é hora para chorar por um motivo desses...? - falou sorrindo, com um sorriso que poderia até transformar a mais sombria noite em dia. Ele se aproximou de mim, e me abraçou delicadamente com um dos seus braços, enquanto eu limpava meu rosto molhado.

Passamos um breve momento assim, até que afastei-me dele e falei:

- Então... Vamos fazer o chocolate, já que não vai ser feito sozinho!

Preparamos o chocolate quente rapidamente e entramos na sala com as bandejas. Aiko estava sentada no kotatsu, aparentemente conversando com Kakyou. Aproximei-me e entreguei uma xícara para cada, falando:

- Estejam preparados! Esse vai ser o melhor chocolate que vocês vão tomar na vida! Afinal foi feito por minha pessoa! - soltei uma risada.

- Tenho certeza que sim. - falou Kakyou, sorrindo serenamente.

- Claro que sim! <....>-chan é a melhor "fazedora" de chocolate quente do universoooo! - falou Aiko, entusiasmada.

Sentei-me no kotatsu, assim como Yuki.

- Então, já escolheu o filme?

Ela virou a cara, frustrada e falou:

- Eu não consegui decidir o filme então o bonitão escolheu.

- Nossa, Aiko! Precisa de ajuda até para escolher um filme. Daqui a pouco vai até precisar de ajuda para tomar banho. Não peça isso para mim, hein!

Todos nós começamos a rir, mesmo Aiko. De repente, pareceu que o clima havia se tornado mais leve e confortável. Parei para observar os três rindo. Era uma imagem bonita e suave, um momento precioso que estaria gravado em mim. Por um breve momento tive novamente uma nova vontade de chorar. Eu tenho amigos, amigos que me apoiam, que brigam, que riem, que brincam, simplesmente amigos. Involuntariamente, um sorriso se formou em meu rosto e fiquei apenas observando seus rostos alegres. Quando finalmente pararam de rir, observaram meu rosto sorridente.

- Hey, <....>-chan! Volta para a Terra que temos que ver um filme!

- Sim, realmente! E que filme vamos ver?

Kakyou me passou a capa. Minha cara foi indescritível. Era o filme Ursinhos Carinhosos: Viagem à Terra das Brincadeiras, um desenho infantil famoso na década passada no ocidente.

- Você está brincando comigo, né? Por acaso... Por que diabos você trouxe o filme dos Ursinhos Carinhosos, Aiko? E por que você escolheu logo esse filme, Kakyou?

Ele riu e ela corou um pouco.

- Ah, sei lá! Me dá isso aqui! - e pegou o dvd de minhas mãos.

- Deixe-me ver os filmes, então. - pedi.

Ela me passou a torre de filmes e comecei a procurar algum. Eram cada filme mais estranho que o outro: A história dos pés fedidos, Martha e a chuva de prata, Mãe de Alice no País das Maravilhas...

- Realmente. É cada filme estranho...

- Por que você acha que eu escolhi o dos Ursinhos Carinhosos?

- Ai, que legal! Tem até o filme do Digimon. Quando nova via direto na televisão.

- Eu sei, é um clássico. - disse Aiko.

- Ah. Já sei vamos ver esse! - e mostrei a capa.

Era um filme de terror intitulado Os fantasmas de Rue Madeline. Os três levantaram uma das sombrancelhas e falaram em uníssono:

- Você vai ficar morrendo de medo.

- Vou, não! Eu juro!

- Sei, da última vez que vimos um filme de terror, você se escondeu debaixo do kotatsu. - falou Yuki.

- Como isso é possível? - perguntou Kakyou.

- Não queira saber! Acredite em mim. - respondeu Aiko.

- Ah! Daquela vez foi diferente! Vamos ver, vamos ver! Tenho certeza que não vai acontecer de novo.

- Okay, se você insiste tanto. - e Yuki colocou o dvd no aparelho.

O filme começou e ficamos observando as imagens em silêncio. Passava-se na França, século XVIII, e contava a história sobre uma rua escura que era assombrada pelos fantasmas das mulheres que foram queimadas há muitos e muitos anos atrás e que continuavam nesse plano para amaldiçoar e assombrar homens e qualquer pessoa que estivesse ligada a madeira ou fogo. Achei a história um pouco sem sentido, mas ainda assim era um filme assustador, com todos aqueles efeitos. Uma vez ou outra, pulava de susto fazendo com que chamasse a atenção dos demais, mas nada sério. Ainda.

Absorta em uma cena onde um fantasma estava correndo atrás de uma mulher que segurava uma tocha, senti algo passeando na minha perna.

- Aiko, pare de roçar minha perna. Este truque já é velho.

- Mas eu não estou roçando sua perna. - falou, com a sinceridade em seu olhos.

- AAAH! -gritei - É O FANTASMA! - e me levantei, desesperada.

Kakyou deitou-se no chão rindo como uma criança. Olhei para ele horrorizada, assim como Aiko e Yuki.

- Nossa! Foi TÃO engraçado! - falou, entre risos. - Eu não consigo respirar...

Ninguém conseguia reagir àquele ato tão brincalhão e tão maroto feito por Kakyou. Kakyou, o sério, o quieto, o pensativo... tinha me pregado uma peça. Ele parou de rir aos poucos e falou:

- Que foi? Posso me divertir também, não?

- Claro que pode... Mas foi muito maldoso! - falei, fingindo estar chateada.

- Ah, foi uma brincadeira, <....>. Você também faz brincadeiras... - ele se levantou e aproximou-se de mim.

- Sim, faço mesmo. - tirei a tiara que estava usando e coloquei na cabeça de Kakyou.

- Hey, isso não vale.

- Bonitão, olha para cá. - Aiko estava com o celular aberto, pronta para tirar uma foto e tirou.

Fomos ver a foto e mostrava ele usando a tiara e com a mão estendida, numa tentativa de tirar o celular de Aiko, enquanto eu estava atrás rindo. Kakyou mostrava uma cara zangada por causa da foto, mas eu sabia que ele estava se divertindo. Ele tirou a tiara da cabeça e colocou de volta na minha cabeça.

- Esse é seu lugar. - sorriu. - Pelo menos, não era o chapéu de sua avó.

- Ah, é mesmo. Ele. - corri até o quarto e peguei o chapéu. Porém, ao invés de colocar nele, preferi colocar em Yuki que de bom grado tirou uma foto com o penoso chapéu.

Esquecemos do filme e começamos a tirar fotos idiotas. Fiz uma maquiagem bem... índio na Aiko e ela começou a correr pela casa, batendo com a mão na boca. Parecíamos criança em dia de festa. O dia não poderia ter sido melhor, até conseguimos deixar Kakyou e Yuki mais soltos. Sim, essa é uma vitória da qual vou me orgulhar por toda eternidade.

Quando o Sol começava a se pôr, Aiko e Yuki de despediram de nós e se retiraram. Estava eu e Kakyou conversando em frente a minha casa.

- É sério! - falou, Kakyou. - Se um dia você mostrar aquelas fotos para alguém, eu vou negar piamente que isso nunca aconteceu e que é apenas uma montagem estúpida... Não! Vou até negar que te conheço!

- Pode deixar, não irei mostrar para ninguém. - falei, rindo. - Ah, olha! - apontei para o céu, acima de nós.

Era um pequeno floco de neve, que estava sendo seguido por milhares e milhares de outros.

- A primeira neve da estação... - falou vagarosamente, como se estivesse maravilhado.

- Tão bonito...  - juntei as mãos e abri em forma de 'cuia' com a tentativa de capturar alguns flocos de neve. Então desviei meu olhos dos flocos de neve e olhei para Kakyou que parecia estar me observando por um bom tempo com um sorriso no rosto.

- Bem... Vou indo. -e desceu as escadas que davam para a calçada.

Desci junto, mas tropecei no penúltimo degrau e caí em cima de Kakyou que estava na minha frente. Acabamos deitados no chão.

- Nossa! Desculpe-me. Eu tropecei. - falei tentando me desculpar.

- Ai! Essa doeu... - falou e abriu os olhos que até então estavam fechados por causa da dor.

Oh, não! Aqueles olhos, aqueles belos olhos, como mel, e tão doce quanto, que desde a primeira que os vi me amaldiçoou e perseguiu, invadiu meu sonhos e perturbou minha vida, entretanto, mesmo assim, por que eu amava tanto aqueles olhos a ponto de nunca querer esquecer eles e poder admirá-los pelo resto dos dias? Tentei desviar dos olhos mas prestei atenção em seus lábios. Tão ternos e sedutores, agora arroxeados por causa do frio que nos atacava. Eu queria tê-los, possuí-los, saboreá-los, penetrar naquelas portas cheias de segredo... De repente, sem meu consentimento, meu corpo tentou diminuir a distância entre seus lábios e meus.

Quando estava a poucos centímetros de sua boca, percebi o que iria se desenrolar caso eu continuasse com aquilo. Meu Deus! Lá estava eu, na calçada, em frente a minha casa, em cima de um rapaz e quase beijando-o.

- Ah... er... Acho melhor eu sair de cima de você. Afinal, devo ser pesada. - tentei disfarçar.

Levantei-me , rindo e em seguida, ele fez o mesmo.

- Na verdade, não... - falou normalmente enquanto batia no casaco para tirar a neve. - Já vou indo, então. Até mais, <....>.

- Tchau, Kakyou. - acenei para suas costas.

Entrei em casa e fui tomar um belo de um banho.

"O que eu estava fazendo?"

~*

Creio que foi isso. Desculpe-me pela demora. Queria um capítulo espetacular que contivesse algum drama adicional a história. E tive a ideia de ela não se dar bem com o pai a pouco tempo. Ah, sim. Ando com alguns problemas. com a <....>. Acho que a personalidade dela está se tornando um pouco contraditória, não? Bem, deixe seus comentários sobre o que acharam desse capítulo. Sim! Conseguimos os comentários de volta, graças a Pocká.  Ainda temos que resolver algumas coisas mas vamos devagar. Além disso, não tenho o dom de descrever as cenas românticas ou qualquer outro tipo de cena, então ainda estou em fase iniciante quanto a isso. Dei o melhor de mim nesse capítulo e não acho que ficou tão ruim, pelo menos, eu gostei. Por favor, leia. Fiz com muito carinho

Vocabulário.
kotatsu - Consiste em um tipo de mesa baixa (para que caibam as pernas das pessoas sentadas À volta) com um pequeno aquecedor embutido no centro, voltado para baixo, e um cobertor grosso "lacrando" a mesa pelos quatro lados para impedir que o ar quente escape.
-san - Pronome de tratamento utilizado como sufixo. Equivalente ao senhor/senhora/senhorita.
-chan - Pronome de tratamento utilizado como sufixo. Demonstra informalidade e intimidade.
 Ursinhos Carinhosos: Viagem à Terra das Brincadeiras - Desenho infantil criado em 1981. Direitos autorais: Walt Disney Pictures.
A história dos pés fedidosMartha e a chuva de prataMãe de Alice no País das Maravilhas,Os fantasmas de Rue Madeline - Filmes fictícios, com nomes criados por mim.
Digimon - Anime que passou por muito tempo na televisão brasileira. Criado por Aki Maita. Direitos autorais: Bandai Co., Ltd.

Até o próximo post! (:

4 comentários:

Magi disse...

Caramba, você realmente está dando vida aos seus personagens a cada capítulo entrando cada vez mais nos detalhes de tais.
E essa referência ao sonho de ser escritora... acho que conheço alguém com o mesmo sonho né Gii? *cof cof*

Novamente me fez soltar risadas, inclusive com o ''fazedora'' de chocolate.
E HEY, EU ADORAVA URSINHOS CARINHOSOS! <3 *shoot*

E foi a primeira vez que descreveu uma cena romântica tão bem elaborada?
Estou ficando orgulhoso de você Gii! Vem melhorando a cada post.

Gii. disse...

Também sinto minha melhora. Às vezes, leio os primeiros capítulos e sinto uma grande diferença. E olha que foram apenas alguns meses, e até pareço outra pessoa escrevendo.

Ainda tenho um pequeno problema em entrar em detalhes com os personagens e ambientes, mas estou melhorando devagar. Além de que, na minha cabeça, nem tenho certeza e como são direito. D:

Ah, sim. Identifico-me bastante com todos os personagens. E isso não é diferente com <....>. Pode-se dizer que cada personagem é um pedaço de minha própria personalidade. O que bem percebido nela, como alguns gostos e até sonhos.

Na verdade, eu nem esperava que esse capítulo se desenrolari dessa maneira. Não imaginava que teria tantos fatos acontecendo num mesmo capítulo. Estou orgulhosa de ter conseguido aumentar tanto o tamanho do capítulo e conseguir torna-lo bem mais divertido e interessante.

Sim, foi a primeira vez que descrevi uma cena romântica tão detalhadamete. Como estou trabalhando com narrador-personagem, acho que devo trabalhar bem o que ela sente nessas horas mais decisivas. Mesmo sendo um pouco difícil para mim. Fiquei orgulhosa com o resultado. Não passou totalmente o que eu senti quando eu mesma imaginei a cena, mas achei incrível o fato de eu já ter conseguido passar algo mais profundo. Até pensei em te mostrar antes de postar para você dar sua opinião quanto a essa cena. Mas não consegui aguentar e postei assim mesmo.

Obrigada por sempre me ajudar e me apoiar. Vou continuar escrevendo, nem qe seja apenas para você.

Incrivelmente, estou com os próximos dois capítulos na minha cabeça, mas ainda não coloquei no papel. Fiquei tão absorta no que eu mesma pensei que nem consegui escrever. Acho que até o fim do mês teremos mais dois capítulos, quem sabe três. Estou pensando nos próximos capítulos aprofundar as características físicas e psicológicas do Kakyou. Estou tentando decidir a profissão dele também. @@ AH, difícil decisão.

Gii. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Karine disse...

Aaaaaaaaaaaaaa esse é O meu cap. Preferido. O mais tenso... que não tenho nem o que comentar! E tambem o mais engraçado^^
Gii Pelo Amor de Deus de onde cê tirou Os Ursinhos Carinhosos???
Eeeeeee racho de rir quando tô lendo e vejo A mãe de alice no Pais das Maravilhas creedo isso não é muito interessante. A hora em que Kakyou faz um pegadinha com a <...> "Ela devia ter um nome toda vida fica um vacuo pra falar o nome dela
é por isso que só chamo ela de... A não vem ao caso cê que tem que dar um nome pra ela¬¬". Mais continuando é muito engraçado e quando ele ta rindo que nem maluco é mais engraçado ainda. E a Aiko é impagavel ela consegue ser mais doida do que eu^^.


Tenho um protesto pra fazer!!!!!

Gii cê é malvada fica deixando a gente curiosa com o passado do Kakyou isso não si faz não e por falar em maldade esses quase beijos são uma maldade duplamente cometida agente si ilude pensando que vai sair pelomenos um mizero selinho e direpente quebra minhas forças por que não sei um selinho nem pra banho!!!! ¬¬



Axo que era só isso que eu ia falar.

Ah quero pedir uma coisa